sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Movimento em luto


Ciclistas militantes de São Paulo e de outras cidades prestaram homenagem ontem a Marcia Regina de Andrade Prado, 40 anos, morta atropelada por um ônibus na Avenida Paulista anteontem. Ela fazia parte de movimentos em prol da bicicleta como meio de transporte.

A notícia sensibilizou essa comunidade, unida por um único ideal: construir um mundo onde o ir e vir pode ser feito de forma humana, sem agredir uns aos outros; sem agredir o ambiente. Dados da Organização Mundial de Saúde apontam que no ano 2000 cerca de 3 milhões de pessoas morreram de problemas decorrentes da poluição atmosférica.


Seriam esses ciclistas invisíveis? Sim, parece que são, ao menos aos olhos de uma sociedade moderna cega, que vê, mas não enxerga. E que sabe dos problemas, mas fica de braços cruzados, esperando algum messias qualquer trazer soluções viáveis.



A indústria automobilística, com ou sem crise (que por sinal acabou por afetar os trabalhadores, só para variar), não quer saber de reduzir a produção. E o governo brasileiro, vendo com bons olhos. Vamos lá: em São Paulo, já são 6 milhões de automóveis registrados. E a frota de ônibus, qual é? E a quilometragem de vias urbanas, qual é? São cifras desproporcionais, sem dúvidas.

E a quilometragem de ciclovias, qual é, meu caro gestor? Diz a reportagem de Rodrigo Brancatelli que a maior metrópole do país tem rídiculos 30 quilômetros de vias específicas para bicicletas. Em Bogotá - sim, Colômbia, aqui ao lado! - são 300 quilômetros dentro de um projeto inteligente de integração dos diferentes tipos de veículos urbanos. Qual é a cidade que queremos para o futuro? Qual é o plano político de Kassab para solucionar esse problema? Implantar bicicletas em quatro estações de metrô, numa parceria com a seguradora Porto-seguro, beira uma piada de muito mal gosto.

O trânsito de São Paulo mata mais do que a Aids e outras epidemias. Ainda de acordo com a matéria de Brancatelli, cerca de 4 pessoas "vestem o paletó de madeira" diariamente no caos urbano da Babilônia Paulistana.

Não se trata de querer obrigar todo mundo a se locomover de bicicleta, até por que é algo que exige certas habilidade e um preparo físico regular. A questão é entender que o uso da "magrela" faz parte de um processo de conscientização a respeito de uma das crises que o mundo está vivendo (há outras talvez tão importantes quanto, como a humanitária, por exemplo), que é a crise ecológica. Andar de bicicleta é exigir um direito. É uma forma de fazer política.

Marcia Prado pagou o preço por isso. Que aqueles que permanecem aqui mantenham a esperança de que um outro mundo é possível.

Foto 1: http://www.flickr.com/photos/panopticosp/2544365579/

Foto 2: http://www.flickr.com/photos/fotojornalistaandersonbarbosa/2880518445/