domingo, 31 de janeiro de 2010

O Fórum e as estratégias de organização

Por Pedro Martins

O Fórum Social Mundial 2010 adotou uma estratégia diferenciada para aglutinar os participantes – movimentos sociais, intelectuais, terceiro setor, poder público, cidadãos e movimentos sindicais – em torno das discussões temáticas: descentralizar. Além de Porto Alegre, que abrigou o “Seminário 10 anos depois”, outras seis cidades do Rio Grande do Sul sediaram atividades do fórum.

Isso deu o que falar. E é com um resumo dessa discussão e algumas observações pessoais que vou começar esse artigo, o primeiro numa série de três textos que serão publicados durante a semana.

Quando cheguei, já no terceiro dia, fui direto ao núcleo cerebral dos debates: a Usina do Gasômetro. Lá estava sendo realizado um painel com o tema “Sustentabilidade”, que reunia lideranças de movimentos sociais do Brasil, Chile e Peru. Tinha bastante gente. Consegui acompanhar pois estava começando. Uma das falas mais contundentes, para mim, foi a do peruano Handerson Rengifo, que num discurso muito simples afirmava que “os governos estão tirando os recursos dos povos indígenas para entregar na mão de multinacionais”.

Rengifo, que representava uma associação em prol da preservação dos direitos dos índios na Amazônia do Peru, apresentou alguns dados de problemas sociais existentes no país: 132 conflitos sócio-ambientais em 2009; 600 líderes comunitários denunciados por órgãos de segurança.

Ilhas

Dados da organização do evento dão conta de que 27% do público era formado por jovens – até 27 anos. É bem provável que eles estavam praticamente todos no Acampamento da Juventude, em Novo Hamburgo, há alguns quilômetros da capital, “isolados” e “escanteados”, como observou o jornalista editor da Revista Fórum, Renato Rovai em seu blog: http://www.revistaforum.com.br/sitefinal/blog/default.asp#8003.

Pelo menos foi diferente de 2008, ano onde, a grosso modo, qualquer cidade do país poderia fazer um evento dizendo fazer parte do FSM. Não houve qualquer direcionamento. Ao meu ver, o fórum daquele ano não aconteceu efetivamente.

Essa impressão de que a coisa ficou muito fragmentada era compartilhada por um monte de gente com boa bagagem no processo para opinar. Como por exemplo a geógrafa Clarice, que conversou comigo durante a reunião da Coordenação do FSM + 10, onde se discutiam estratégias de articulação para a COP-16 (novembro, México). “Acho que há um risco de enfraquecer o movimento com essa estratégia, mas, por outro lado, é uma experiência que faz parte do processo”, comentou.

Mais do que um sentimento generalizado, a crítica ficou registrada na plenária de encerramento por meio da fala de diferentes participantes. Um deles apontou para a necessidade de se encontrar um eixo único de luta, de modo que as reivindicações para um mundo pós-capitalista fiquem mais próximas de se tornar realidades.

De fato, a quantidade de idéias, informações e atividades ficaram um pouco sem coesão, sem um elo de ligação. Tudo bem, trata-se de um processo em construção, mas organizar o caos será bem vindo em prol do movimento esquerdista que ganha cada vez mais força, principalmente na América Latina.