sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

O Fórum e a Mídia. Mídia para o Fórum?

Por Pedro Martins

“O Estado está sendo seqüestrado pelo capital financeiro”. Foi com declarações desse tom que o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile construiu seu discurso no painel intitulado “Organizações do Estado e do Poder Político, realizado no dia 28. Qual é o modelo de Estado que queremos no século XXI? Que socialismo é possível construir? Essas eram algumas das perguntas-chaves formuladas pelos participantes do Fórum Social Mundial 2010.

No ano passado, na edição de Belém, houve grande entusiasmo dentro do movimento alter-mundista ao enxergar na primeira grande crise econômica do século uma oportunidade para o fortalecimento de correntes de pensamento pós-capitalistas, como relembra o jornalista Antônio Martins em artigo disponível na internet. “Parte da sociedade civil sonhou alto. A única hipótese humanizadora (de alternativa ao colapso dos mercados financeiros) seria uma mobilização inédita das sociedades, com milhões de pessoas nas ruas contra a tirania dos mercados”.

O que aconteceu, na prática, foi bastante diferente. Grandes corporações espernearam feito crianças mimadas para os governos a fim de obter crédito para continuar realizando operações lucrativas. Foram atendidas. Milhares de funcionários foram e continuam sendo demitidos. A recessão econômica veio, abalou as estruturas do sistema, mas esse mesmo sistema conseguiu encontrar formas de adaptação.

Agora, o temor é por uma nova queda, seguindo o que teóricos chamam de crise em “W”. Ou seja, cair para subir e cair em seguida novamente, principalmente devido a formação de novas bolhas em diferentes setores da economia. Um risco iminente é o alto preço de commodities como soja, café, açúcar e suco de laranja: alimentos negociados como mercadoria. Especula-se a respeito da possibilidade de uma nova crise similar a de 2008, quando populações de países africanos sofreram por falta de comida, uma vez que o preço dos produtos impossibilitava as importações.

Os jornais estampavam nas capas cidadãos fazendo filas enormes para pegar arroz, que era fornecido em rações. Imagens daquelas chocantes e marcantes que fazem pensar o que os donos do poder estão fazendo com tanto dinheiro. Onde está sendo investido tanto capital? Para o próprio estado, talvez, por meio dos Bancos Centrais. Enfim, foram alguns tópicos debatidos durante o Fórum.

Mídia e Movimentos Sociais

Dessa vez, a grande imprensa pegou um pouco mais leve, deixando de estigmatizar o Fórum, mas continuou se valendo de declarações pontuais para construir discursos (matérias e editoriais) contrários a ele. Bom, nenhuma novidade, portanto. A batalha de opiniões também faz parte de uma democracia. A impressão que se tem, ao conversar com pessoas que não acompanham o processo do Fórum, é que elas recebem poucas informações a respeito por meio dos “jornalões” aos quais estão acostumadas (viciadas?) a ler.

Apesar de uma constatação óbvia essa de que a cobertura foi enviesada e distorce a realidade dos que estão envolvidos em projetos que visem transformar em menor ou maior grau a ordem vigente do sistema, algumas chamadas merecem ser comentadas.

Por exemplo: “Ex-ídolo, Obama vira alvo no Fórum” (Folha de S. Paulo, 27/01/10), que precede texto no qual a repórter afirma – baseada em quê? – que o presidente dos Estados Unidos foi colocado na posição de um líder salvador pelos militantes do Fórum. Será mesmo? Até onde eu sei nenhum socialista com um mínimo de informação nunca acreditou no projeto político de Barack Obama como sendo “A grande esperança”, até porque sabe-se das relações político-econômicas que ele tinha antes de ser eleito. Muito forçado colocar isso como verdade.

Ou então: “Para Erundina, controle da mídia é modernização” (O Estado de S. Paulo, 30/01/10). A atual Deputada Federal pelo PSB apóia campanhas da sociedade a favor da democratização da mídia há algum tempo. Valendo-se desse fato o autor do texto pretende o seguinte efeito: distorcer as reais intenções políticas de Erundina por meio de uma mudança de significado da palavra “controle”.

Uma rápida contextualização para explicar:

Diversas entidades profissionais ligadas ao mercado da comunicação vêm encampando nos últimos anos uma luta que defende a utilização da informação como algo mais além de uma mercadoria, no caso, um direito de todo o cidadão. Como os principais veículos formadores de opinião do país estão na mão de menos de dez famílias, é fácil constatar que os interesses atendidos serão os desse grupo minoritário. Diante disso, foi formado o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, um espaço de articulação que culminou na I Conferência Nacional de Comunicação, realizada em dezembro do ano passado.

A palavra “controle”, nessa situação, vem da expressão controle social, um termo advindo da sociologia, que remete aos acordos necessários entre a sociedade e o Estado para que haja um funcionamento coeso dentro de determinadas normas que visem o bem estar da população de um modo geral. Controle social da mídia é nada mais do que o estabelecimento de premissas para que emissoras de televisão, rádio, grandes jornais e outros meios ajam de acordo com um interesse mais amplo.

Caso contrário, dá-se margem para determinados tipos de coberturas tendenciosas, como é o caso do que acontece com o MST, alvo constante de manchetes que discriminam um movimento legítimo de um grupo social: a luta por terra.

A pauta do momento é a invasão às fazendas de laranja da empresa Cutrale, que, diga-se de passagem, são áreas públicas. Por conta disso e de outros acontecimentos, como a perseguição política a líderes do movimento, houve um ato durante o Fórum, realizado na Assembléia Legislativa de Porto Alegre. Estiveram presentes militantes da causa campesina em países da América Latina, como Honduras, Equador e Bolívia, que também sofrem do mesmo problema ocorrido no Brasil.

Diante do que foi colocado aqui, no mínimo dá para concluir a importância de buscar outras fontes de informação, alternativas aos veículos tradicionais, sem desmerecimento algum para estes, muito pelo contrário, afinal são feitos por gente com vasto repertório intelectual. Não necessariamente para concordar. Mas pelo menos para entender e quem sabe elevar a qualidade dos debates.

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