segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O Fórum pulverizado para mais de vinte países

Por Pedro Martins

A largada do Fórum Social Mundial 2010 foi dada em Porto Alegre, em janeiro. Ali foi só o começo de uma série de eventos pulverizados ao redor do mundo – 41 programados, no total -, que têm por objetivo comum justamente fortalecer a troca de experiências ultra-fronteiriças de resistência ao atual sistema econômico predominante.

Como eu mencionei no primeiro artigo, trata-se de uma estratégia que gerou alguma controvérsia no interior do processo. Muita gente teve a sensação de que a coisa estava um pouco desarticulada. Um dos principais pensadores do Fórum, o sociólogo português Boaventura de Souza Santos, em entrevista à agência de notícias especializada Terramérica corrobora essa impressão coletiva. “Parte da população que simpatiza com o FSM não pôde compreender o sentido de um Fórum descentralizado, que se desenvolve em cerca de quarenta atividades ao longo do ano, sendo que a de Porto Alegre foi apenas a primeira”, afirmou ele.

Na opinião do teórico, a pulverização de encontros não significa, todavia, um enfraquecimento do movimento. Muito pelo contrário. Segundo Souza Santos, o Fórum tem uma capacidade peculiar de estar constantemente se reinventando. “Os que pensavam que o FSM tinha perdido vigor, obviamente descobriram-se, mais uma vez, enganados”.

Ainda a respeito dessa variedade de locais, é engraçado notar que ao conversar com alguns amigos que trabalham em ONG´s e participam ativamente do Fórum cada um deles falava: “Não...porque o Fórum mesmo foi em tal lugar”, querendo dizer que o néctar do evento estava concentrado no referido local.

Um desses comentários se referiu à Bahia, o que, mapeando as notícias de cobertura do evento, parece fazer bastante sentido. Salvador articulou e formalizou proposta para receber o Fórum Social Mundial de 2013, edição que vem depois de Dakar, na África. Milhares de pessoas saíram às ruas em passeata na capital baiana no fechamento do evento que teve como tema central “Crise e oportunidades”, com debates teóricos propondo alternativas ao modo de produção capitalista.

Juntas, a capital gaúcha e a cidade do Pelourinho reuniram mais de 30 mil inscritos que participaram em mais de mil atividades – auto-gestionadas e organizadas pelo comitê central. Em Porto Alegre, 15% dos participantes eram estrangeiros, vindos de 39 países, alguns dos quais irão abrigar os fóruns ao longo de todo o ano de 2010.

Na Espanha, por exemplo, já foram dois eventos: um em Madri e outro na Catalunha. Esse último, de acordo com reportagens, reafirmou a identidade de um povo, uma cultura, que luta por reconhecimento nas últimas décadas. Em Tóquio, Japão, foram mais de 300 participantes no dia 24 de janeiro. Para o fórum de Detroit (EUA), que acontece em junho, espera-se 20.000 pessoas, incluindo a participação de populações indígenas, de acordo com um dos organizadores, presente em Porto Alegre.

Por fim, seria bom mesmo que cada um que participou do Fórum em uma das várias cidades, afirme: “O fórum mesmo foi aqui”, como quem diz: “Fizemos a nossa parte”. Mas ainda resta a dúvida, que transpassou os três últimos artigos deste blog: de que forma as novidades no formato vão se traduzir em uma agenda comum de reivindicações para o mundo prático onde ocorrem as lutas sociais?

Nenhum comentário: