segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Sacolas plásticas: uma questão de educação

A proibição das sacolas plásticas em estabelecimentos comerciais ainda vai dar muito “pano pra manga”. Trata-se de uma questão complexa porque envolve muitas variáveis – ambientais, sociais, mercadológica, política e cultural -, mas um dos pontos-chave diz respeito à educação, tanto da parte dos cidadãos/consumidores quanto dos políticos que estão no governo.

Muitos tiveram uma reação quase histérica à proibição. Argumentaram que é uma hipocrisia por parte do poder público, uma vez que os serviços de reciclagem ainda não são eficientes. Proibir as sacolas plásticas, na opinião desses, não resolveria nenhum problema ambiental.

Fato é que o uso indiscriminado do plástico é uma das principais fontes de contaminação em larga escala em todo o Planeta. O tempo de decomposição desses produtos na natureza é alto, chegando a cem anos ou mais. Nos oceanos, pesquisadores já identificaram áreas gigantes de concentração de produtos derivados do plástico – embalagens, brinquedos, sacolas, etc – que ficam submersas e acabam sendo consumidas por animais do habitat marinho.

Mas e daí? Qual o impacto da poluição dos ecossistemas na vida das pessoas? Por que se preocupar? Qual a relação desses problemas com o consumo das sacolas plásticas?

Não são perguntas meramente retóricas. São questionamentos necessários para entender que as interações entre os seres vivos e desses com o Planeta seguem uma lógica de interdependência. Quando há excessos, o resultado é o desequilíbrio. É preciso que cidadãos, políticos, empresários e profissionais de todas as áreas adotem um pensamento sistêmico para fazer frente aos principais problemas ambientais da época atual, que não são poucos e o lixo é um deles.

Aqui entra o papel da educação. Principalmente para as crianças, que desde cedo deveriam entrar em contato com um tipo de conhecimento interdisciplinar abordando questões ecológicas e sociais, mas também para jovens e adultos. Pode-se estender ainda mais o conceito e adentrar no que Fritjof Capra classificou como alfabetização ecológica, ou seja, a capacidade de compreender os princípios básicos da ecologia, aplicando-os na construção de comunidades sustentáveis. Um novo padrão de pensamento que entenda as partes de um sistema como resultantes de diferentes processos é o eixo fundamental dessa alfabetização.

Trazendo a ideia para a prática, aparecem algumas perguntas: 1) de que maneira a população foi envolvida no processo de discussão para retirar as sacolas plásticas dos mercados? 2) que parte da população tinha referências para construir um debate de qualidade? 3) quantos compreenderam de verdade que o que está em jogo não é o conforto ou desconforto de levar as compras em um tipo ou outro de embalagem, mas, sim, o problema de uma sociedade que consome plástico em excesso?

De acordo com o instituto Datafolha, para 57% dos paulistanos o fim das sacolas plásticas nos super-mercados é uma ação positiva. A pesquisa afirma ainda que a aceitação foi maior entre pessoas de renda e escolaridade mais elevada. Essa é uma informação relevante. Provavelmente a escolaridade influi no entendimento racional a respeito do problema. De novo, a questão da educação perpassando a discussão. A quantas anda a implementação de programas de educação ambiental nas escolas públicas Brasil afora? Os professores da rede pública de ensino estão capacitados a ensinar aos alunos conceitos básicos de ecologia, cidadania e respeito ao meio ambiente?

É possível ainda que aqueles que tenham pouca informação sobre o assunto tenham problemas na hora de eliminar o lixo, por exemplo, tendo em vista que as sacolas plásticas servem de recipiente principalmente para o material orgânico. Isso pode gerar um novo problema, que é a disposição inadequada dos resíduos, dificultando o trabalho de coleta por parte dos lixeiros.

Na opinião do jornalista ambiental, editor da revista eletrônica Envolverde, Dal Marcondes, a medida de proibição só seria benéfica ao meio ambiente se viesse junto de uma reestruturação do sistema de coleta seletiva nas cidades. Para ele, seria necessário “mudar a relação cultural que o cidadão tem com seus resíduos, fazendo com que cada um se responsabilize de forma ativa com o descarte adequado dos resíduos”.

Diante disso, valem algumas considerações: 1) tirar as sacolas plásticas dos supermercados é algo bem vindo pois irá diminuir a quantidade no ambiente na escala dos milhões – são 13 bilhões de sacolinhas consumidas em média por ano no Brasil; 2) a medida é bem vinda também pois pode gerar um debate que estimule a conscientização da população; 3) por outro lado, o governo não pode esconder a discussão que realmente importa: políticas públicas para os resíduos sólidos; 4) é fundamental investir em educação, para que as leis que dizem respeito à sustentabilidade das comunidades sejam entendidas e possam ser discutidas; 5) o consumidor brasileiro tem que parar de se esconder atrás da soberania dos seus direitos adquiridos e entender que os padrões de consumo individuais também são parte da crise ecológica.

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